terça-feira, 8 de julho de 2008

1 - Mitologia hindu


A mitologia hindu é provavelmente uma das mais antigas do mundo.
Seus primeiros mitos remontam a, talvez, 8000 anos e nasceram numa região conhecida como Vale do Indo (no atual Paquistão).

Desde que os primeiros tempos em que os humanos se sentiam protegidos dentro de uma caverna e sentavam em volta de uma fogueira, à vontade de contar os seus feitos para os demais, fez surgir a mitologia.
Contar histórias sempre foi um dos principais passatempos dos seres humanos. Ainda hoje o cinema e os jogos de computador (RPG) são reflexos destas práticas.
Joseph Campbell, o conhecido estudioso da mitologia mundial, nos ensina que:

" O mito é a abertura secreta através da qual as energias inesgotáveis do cosmos são lançadas nas manifestações culturais humanas" e "a função primordial da mitologia e do mito sempre foi oferecer símbolos que fazem progredir o espírito humano."

O panteão hindu constitui uma tentativa formidável de criar máscaras pelas quais o ser humano tenta falar dos seus sonhos e medos.

A mitologia hindu inicia com o imanifestado (Adhinatha), que se manisfesta na trimurti ( A tríade Inicial e elementar, algo como a santa trindade cristã, porém ao memso tempo muito diferente, composta de Brahma,Vishnu e Shiva ) , unidade na pluralidade.



Na mitologia hindu incluem-se todas as possibilidades: deuses, semi-deuses, seres celestiais, anjos, demônios e vampiros cujas sagas e peripécias serviram desde antiguidade para alimentar o imaginário e os ideais do ser humano.

Apesar desta inegável multiplicidade, o hinduísmo não é tão politeísta quanto aparenta; tirar essa conclusão seria tão leviano como concluir, olhando para o santoral cristão, que o cristianismo é politeísta.

O hinduísmo, tem uma base filosófica dividida em dharshanas (pontos de vista), mas até certo ponto termina a lógica e começa o imaginário de difícil determinação.

Armas não conseguem cortá-lo,
fogo não pode queimá-lo,
água não consegue molhá-lo,
ventos não podem secá-lo...
Ele é eterno e tudo permeia,
sutil, imóvel e sempre o mesmo.

Bhagavad Gítá, II:23-24

Vale apenas ressaltar que, para os indianos não é mitilogia, é Fé.
A fé cristã é também vista como mito para eles.
एकं सद्विप्रा बहुधा वदन्ति
EKAM SADVIPRAA BAHUDHAA VADANTI
(A Verdade é Única, os Sábios a vêem em diversas formas)
Rig Veda, Livro I, Hino 164, verso 46

sábado, 5 de julho de 2008

2 - E... Tudo começa por Vixnu

...

Um dos grandes feitos do Hinduísmo está na fusão de cultos e deuses em uma vasta mitologia. Há uma infinidade incontável de divindades que com o passar dos tempos as características desses deuses se fundiam para formar uma única divindade. É maravilhoso perceber a unidade de todas as mitologias. Dentro do hinduísmo vemos uma série de princípios cósmicos e psicológicos inerentes a todas as religiões.A imagem dos deuses representava as suas características, os diversos braços que uma divindade apresentava significava extensões de sua energia íntima, e os objetos em suas mãos os símbolos dos seus vários poderes na ordem cósmica.




A criação do Universo



Na mitologia hindu, Vixnu (em hindi, विष्‍ण, transladado Vishnu, da raiz sânscrita vishva, "tudo"), juntamente com Shiva e Brahma formam a Trimurti, a Trindade Hindu, na qual Vixnu é o deus responsável pela criação e manutenção do universo. Vixnu representa o SATTVAGUNA, o modo da bondade, e é responsável pela sustentação, proteção, e manutenção do universo.




Nas duas representações comuns de Vixnu, ele aparece flutuando sobre ondas em cima das costas de um deus-serpente chamado Shesh Nag, ou flutuando sobre as ondas com seus quatro braços, cada mão segurando um de seus atributos divinos, uma concha, um disco de energia, um lótus e um cajado. É também apresentado por outras duas formas principais: Deitado em uma serpente de mil cabeças, flutuando num oceano de leite. Neste caso é chamado de Narayana, aquele que mora nas águas cósmicas.




De seu umbigo sai um lótus onde está Brahma, o criador. A seus pés está Lakshmi, representando a beleza e a riqueza que devem se curvar diante do Absoluto. Envolvendo o lótus está uma serpente, Shesha, ou Ananta, que simboliza a eternidade. Ela possui mil cabeças voltadas para o Senhor Vishnu, representando o ego com seus mil desejos e pensamentos que reconhecem o Absoluto.




Vishnu é representado também em pé, sobre um lótus ou uma serpente. Representa o sábio indicando a busca do conhecimento. Apresenta quatro braços, tendo em cada mão um lótus (o conhecimento que sustenta a pureza da mente), um disco (a destruição da ignorância e dos apegos), uma concha (a origem da existência, os cinco elementos) e uma arma, a massa (o poder do conhecimento, o poder do tempo).







A concha se chama Pantchdjanya, que têm nela todos os cinco elementos da criação: ar, fogo, água, terra e éter. Quando se assopra nessa concha, pode se ouvir o som que deu origem à todo o universo, o Om

O disco, ou roda de energia de Vixnu, se chama Sudarshana, e representa o controle dos seis sentimentos, servindo de arma para cortar a cabeça de qualquer demônio.


O Lótus de Vixnu, se chama Padma, e é o símbolo da pureza e representa a Verdade por trás da ilusão.


O cajado de Vixnu, se chama Kaumodaki, ele representa a força da qual toda a força física e mental do universo são derivadas.

Vishnu, o conservador. É para muitos hindus o deus universal. Pois sempre que a humanidade precisa de ajuda, esse deus benévolo aparece na Terra como um avatara ou reencarnação. É o equivalente hindu do Cristo Cósmico e do Osíris egípcio.




VISHNU é a fonte original de todos os Avatares e deuses. Ele está Presente em cada átomo da criação, bem como no coração de todos os seres. A palavra Vishnu significa "aquele que tudo penetra", ou "aquele que tudo impregna". Vishnu é tido como o preservador do universo, enquanto os dois outros deuses maiores, Brahma e Shiva, são considerados os criadores e destruidores do universo, respectivamente. Os seguidores de Vishnu são chamados Vaishnavites. Como preservador do cosmos, Vishnu mantém as leis do universo. Ao contrário de Shiva, que freqüentemente busca refúgio na floresta para meditar, Vishnu constantemente participa de conquistas amorosas. Enquanto a ordem prevalece no universo, Vishnu dorme. Assim como Shesha flutua através do oceano cósmico dando sustentação à Vishnu, o universo surge do sonho de Vishnu. Mas quando há desequilíbrio no universo, Vishnu se utiliza de seu veículo, Garuda, e guerreia com as forças do caos, ou ele envia um de seus avatares (ou encarnações) para salvar o mundo. Acredita-se que Vishnu teria dez avatares, sendo os mais populares Rama e Krishna. A lista completa dos dez avatares é a seguinte:




Segundo o hinduísmo, Vixnu vem ao mundo de diversas formas, chamadas avatares, que podem ser em formas humanas, animais ou uma combinação dos dois. Todos esses avatares aparecem ao mundo, quando um grande mal ameaça a Terra, no total, existem dez avatares de Vixnu, das quais nove já se manifestaram no nosso mundo - sendo Rama e Críxena os mais conhecidos - e outra ainda está por vir. São elas:



Matsya, o Peixe;



Kurma, a Tartaruga;



Varaha, o Javali;







Narasimha, o Homem-Leão;



Vamana, o Anão;



Parashurama, o Homem com o machado; ou o padre guerreiro



O príncipe Rama




O pastor de animais Críxena


Buddha-Mayamoha


Buda, o Iluminado (Sidarta Gautama) Nota: segundo os budistas, há 24 budas, que não são encarnações de Vishnu, um deus de outra religião. Sidarta Gautama, o Buda histórico, foi um dos Budas.




Kalki, o espadachim montado a cavalo que ainda está por vir.

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A esposa de Vishnu é a deusa Lakshmi, deusa da prosperidade e sorte que o acompanha encarnado na terra como esposa de seus avatares.



Seu veículo é Garuda, a águia gigante.



Vixnu tem uma forte relação com a água (Nara), tanto que um de seus nomes é Narayana, aquele que flutua sobre as águas. Ele é representado ao lado de uma Serpente com muitas cabeças, já mencionada anteriormente. Do seu umbigo, nasce uma flor de Lótus da qual emerge Brama, o deus criador do universo.


Outros nomes de Vishnu

Vishnu, o Preservador
Há uma famosa prece hindu denominada Vixnusahastanama-stotra, ou os "mil nomes de Vixnu". Os nomes derivam dos atributos do deus. Esses são alguns dos principais:




Acyutah (firme, permanente)
Ananta (sem fim, eterno, infinito)
Kesava (de cabelo abundante e belo)
Narayana ("o que está sobre a água")
Madhava (relacionado à primavera)
Govinda (chefe dos pastores: um nome de Krishna)
Madhusudanah (aquele que destrói o demônio Madhu)
Trivikrama
Vamana (anão)
Aridhara
Hrsikeshah
Padmanabha (de cujo umbigo brota o lótus que contém Brahma)
Damodara (um nome de Krishna)
Gopala (pastor: ref. Krishna)
Janardanah
Vāsudeva (filho de Vasudeva: ref. Krishna)
Anantasayana
Sriman
Srinivasa



sexta-feira, 4 de julho de 2008

3 - Brahma



Brahma, O Criador

Brama, também conhecido pela grafia Brahma, é o primeiro deus da Trimurti, a trindade do hinduísmo, que forma junto com Vixnu e Shiva.

Brama é considerado pelos hindus a representação da força criadora ativa no universo.

A visão de universo pelos hindus é cíclica.

Depois que um universo é destruído por Shiva, conhecido como : O Destruidor (ou o Transformador), Vixnu , o Preservador, dorme e de seu umbigo nasce uma flor de lotús de onde sai Brama...
Quando o próximo universo está para ser criado, Brama aparece montado num Lótus, que brotou do umbigo de Vixnu e recria todo o universo.
Depois que Brama cria o universo, ele permanece em existência por um dia de Brama, que vem a ser aproximadamente 4.320.000.000 anos em termos de calendário hindu. Quando Brama vai dormir, após o fim do dia, o mundo e tudo que nele existe é consumido pelo fogo, mandado por Shiva, quando Brahma acorda de novo, ele recria toda a criação, e assim sucessivamente, até que se completem 100 anos de Brama, quando esse dia chegar, Brama vai deixar de existir, e todos os outros deuses e todo o universo vão ser dissolvidos de volta para seus elementos constituíntes.

Brama é representado com quatro cabeças, mas originalmente, era representado com cinco. O ganho de cinco cabeças e a perda de uma é contado numa lenda muito interessante.

De acordo com os mitos, ele possuía apenas uma cabeça. Depois de cortar uma parte do seu próprio corpo, Brahma criou dela uma mulher, chamada Satrupa, também chamada de Sarasvati. Quando Brahma viu sua criação, ele logo se apaixonou por ela, e já não conseguia tirar os olhos da beleza de Satrupa.


Naturalmente, Satrupa ficou envergonhada e tentava se esquivar dos olhares de Brama movendo-se para todos os lados. Para poder vê-la onde quer que fosse, Brama criou mais três cabeças, uma à esquerda, outra à direita e outra logo atrás da original. Então Satrupa voou até o alto do céu, fazendo com que Brama criasse uma quinta cabeça olhando para cima, foi assim que Brama veio a ter cinco cabeças. Da união de Brahma e Satrupa, nasceu Suayambhuva Manu, o pai de todos os humanos.

Nas escrituras, é mencionado que a quinta cabeça foi eliminada por Shiva.

Brama falou desrespeitosamente de Shiva, que abriu seu terceiro olho e queimou a quinta cabeça de Brama.



Brama tem quatro braços, e nas mãos segura uma flor de lótus, seu cetro, uma colher, um rosário, um vaso contendo água benta e os Vedas. O veículo de Brama é o cisne Hans-Vahana, o símbolo do conhecimento.


A esposa de Brama é Sarasvati, a Deusa da Sabedoria.


Na Índia em si, o deus é pouco cultuado, pois na visão hindu, sua função já se acabou depois que o universo foi criado. As lendas sobre Brama não são tantas nem tão ricas quanto as de Vixnu e Shiva. Para estes deuses existem incontáveis templos de adoração, mas para Brama, apenas um, que fica no lago Pushkar em Ajmer.



Dia de Brama



Brama vive cem anos, mas não são anos humanos, são "anos de Brama". O período do dia ou da noite da vida do deus é chamado de Kalpa, quando a noite de Brama chega, o universo é reabsorvido (Pralaya) no seu sono divino. Um Kalpa corresponde a 4.320.000.000 anos terrestres. A idade da Terra é medida em quatro Yugas ou "Eras", que são:



Satya-Yuga: 4.800 anos


Treta-Yuga: 3.600 anos


Dwapara-Yuga: 2.400 anos


Kali-Yuga: 1.200 anos


Total: 12.000 anos


A cada Yuga que se passa, a virtude no mundo vai caindo progressivamente.


Na Satya-Yuga a virtude prevalece e o mal é desconhecido.


Na Treta-Yuga a virtude cai para três quartos.


Na Dwapara-Yuga a virtude já caiu pela metade.


Na Kali-Yuga, só resta um quarto de virtude.


As quatro Yugas juntas formam a Mahayuga.

O Deus Criador considerado outrora o maior dos deuses porque colocava o universo em movimento, decresceu de importância com a ascensão de Shiva e Vishnu.


Aparece de manto branco montando um ganso.


Possui quatro cabeças das quais nasceram os Vedas, que ele leva nas mãos junto com um cetro e vários outros símbolos.


É o Pai Celestial, criador dos céus e da terra.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

4 - Shiva



Shiva


Shiva, como Nataraja.


Xiva, conhecido mais corriqueiramente pela grafia Shiva é um deus ("Deva") hindu, o Destruidor (ou o Transformador), participante da Trimurti juntamente com Brama, o Criador, e Vixnu, o Preservador.


Uma das duas principais linhas gerais do hinduísmo é chamada de shivaísmo, em referência ao deus.


Na tradição hindu, Shiva é o destruidor. Na verdade ele destrói para construir algo novo, assim, prefiro chamá-lo de "renovador" ou "transformador". Suas primeiras representações surgiram no neolítico (em torno de 4.000 a.C.) na forma de Pashupati, o Senhor dos Animais.







A criação da ioga é atribuída a ele e o Yôga é uma prática que produz transformação física, mental e emocional, portanto, está intimamente ligado ao deus da transformação. Shiva é o deus supremo (Mahadeva), o meditante (Shankara) e o benevolente, onde reside toda a alegria (Shambo ou Shambhu).




O trishula


O tridente que aparece nas ilustrações de Shiva é o trishula. É com essa arma que ele destrói a ignorância nos seres humanos. Suas três pontas representam as três qualidades dos fenômenos: tamas (a inércia), rajas (o movimento) e sattva (o equilíbrio)


A serpente


A naja é a mais mortal das serpentes. Usar uma serpente em volta da cintura e do pescoço, simboliza que Shiva dominou a morte e tornou-se imortal. Na tradição da ioga, ela também representa kundalini, a energia de fogo que reside adormecida na base da coluna. Quando despertamos essa energia, ela sobe pela coluna, ativando os centros de energia (chakras) e produzindo um estado de hiperconsciência (samádhi), um estado de consciência expandida.

Ganga


No topo da cabeça de Shiva se vê um jorro d'água. Na verdade é o rio Ganges (Ganga) que nasce dos cabelos de Shiva. Há uma lenda que diz que Ganges era um rio muito violento e não podia descer à Terra pois a destruiria com a força do impacto. Então, os homens pediram a Shiva que ajudasse e ele permitiu que o rio caísse primeiro sobre sua cabeça, amortecendo o impacto e depois, mais tranqüílo, corresse pela Terra.

Lingam


Lingam ("emblema", "distintivo", "signo"), também chamado de linga, é o símbolo fálico de Shiva. Ele representa o pênis, instrumento da criação e da força vital, a energia masculina que está presente na origem do universo. Está associado ao poder criador de Shiva.
O lingam é o emblema de Shiva. Na Índia, reverenciar o lingam é o mesmo que reverenciar a Shiva. Ele pode ser feito em qualquer material, embora o preferido seja o de pedra negra. Na falta de uma escultura, se constrói um lingam com a areia da praia ou do leito do rio; ou simplesmente se coloca em pé uma pedra ovalada.
É comum, nos templos, se pendurar sobre o lingam uma vasilha com um pequeno orifício no fundo. A água é derramada constantemente sobre ele numa forma de reverência. A base do lingam representa yoni, a vagina, mostrando que a criação se dá com a união do masculino e feminino.

Damaru



O tambor em forma de ampulheta representa o som da criação do universo. No hinduísmo, o universo brota da sílaba /ôm/. É interessante comparar essa afirmação com a conhecido prólogo do Evangelho de São João: "No princípio era o Verbo (a sílaba, o som). E o Verbo era Deus. (...) Tudo foi feito por Ele (o Verbo) e sem Ele nada se fez."
É com o som do damaru que Shiva marca o ritmo do universo e o compasso de sua dança. As vezes, ele deixa de tocar por um instante, para ajustar o som do tambor ou para achar um ritmo melhor e, então, todo o universo se desfaz e só reaparece quando a música recomeça.

Fogo


Shiva está intimamente associado ao fogo, pois esse elemento representa a transformação. Nada que tenha passado pelo fogo, permanecerá o mesmo: o alimento vai ao fogo e se transforma, a água se evapora, os corpos cremados viram cinzas. Assim, Shiva nos convida a nos transformarmos através do fogo da ioga. O calor físico e psíquico que essa prática produz nos auxilia a transcender nossos próprios limites.

Nandi


Nandi ("aquele que dá a alegria") é o touro branco que acompanha Shiva, sua montaria e seu mais fiel servo. O touro está associado às forças telúricas e à virilidade. Também representa a força física e a violência. Montar o touro branco, significa dominar a violência e controlar sua própria força.
Sua devoção por seu senhor é tão grande que sempre se encontra sua figura diante dos templos dedicados a Shiva. Ele está deitado, guardando o portão principal.

A lua crescente


A lua, que muda de fase constantemente, representa a ciclicidade da natureza e a renovação contínua a qual todos estamos sujeitos. Ela também representa as emoções e nossos humores que são regidos por esse astro. Usar um crescente nos cabelos simboliza que Shiva está além das emoções. Ele não é mais manipulado por seus humores como são os humanos, ele está acima das variações e mudanças, ou melhor, ele não se importa com as mudanças pois sabe que elas fazem parte do mundo manifesto. Os mestres que se iluminaram afirmam que as transformações pelas quais passamos durante a vida (nascimento e morte, o final de uma relação, mudança de emprego, etc.) não afetam nosso ser verdadeiro e, portanto, não deveríamos nos preocupar tanto com elas.

Nataraja


Neste aspecto, Shiva aparece como o rei (raja) dos dançarinos (nata). Ele dança dentro de um círculo de fogo, símbolo da renovação e, através de sua dança, Nataraja cria, conserva e destrói o universo. Ela representa o eterno movimento do universo que foi impulsionado pelo ritmo do tambor e da dança. Apesar de seus movimentos serem dinâmicos, como mostram seus cabelos esvoaçantes, Shiva Nataraja permanece com seus olhos parados, olhando internamente, em atitude meditativa. Ele não se envolve com a dança do universo pois sabe que ela não é permanente. Como um yogue, ele se fixa em sua própria natureza, seu ser interior, que é perene.
Em uma das mãos, ele segura o Damaru, o tambor em forma de ampulheta com o qual marca o ritmo cósmico e o fluir do tempo. Na outra, traz uma chama, símbolo da transformação e da destruição de tudo que é ilusório. As outras duas mãos, encontram-se em gestos específicos. A direita, cuja palma está a mostra, representa um gesto de proteção e bênçãos (abhaya mudrá). A esquerda representa a tromba de um elefante, aquele que destrói os obstáculos.
Nataraja pisa com seu pé direito sobre as costas de um anão. Ele é o demônio da ignorância interior, a ignorância que nos impede de perceber nosso verdadeiro eu. O pedestal da estátua é uma flor de lótus, símbolo do mundo manifestado.


A imagem toda nos diz: "Vá além do mundo das aparências, vença a ignorância interior e torne-se Shiva, o meditador, aquele que enxerga a verdade através do olho que tudo vê (terceiro olho, Ájña Chakra)."

Pashupati


Pashupati ("senhor dos animais", de pashu, "animais", "feras", "bestas", e pati, "senhor", "mestre") é uma das primeiras representações de Shiva e surgiu no neolítico, por volta de 4.000 a.C.. É representado com três faces, olhando o passar do tempo (passado-presente-futuro). A coroa em forma de cornos de búfalo evidencia a proximidade de Shiva com esse animal que representa as forças da terra e da virilidade. Pashupati está sentado em posição de meditação, o que nos faz pensar que as técnicas meditativas já existiam naquele período. Os quatro animais ao seu redor são o tigre, o elefante, o rinoceronte e o búfalo. Por ser o Senhor das Feras, Pashupati podia meditar entre elas sem ser atacado. Mas, há um outro simbolismo. Esses animais podem representar nossas emoções e instintos mais básicos como o orgulho, a força bruta, o ódio e a sexualidade desenfreada. Pahupati, então, é também aquele que domou suas feras interiores, suas emoções e convive sabiamente com elas. O Shiva Purana, conta que os deuses estavam em luta com os demônios e, como não estavam conseguindo vencê-los, foram pedir auxílio a Shiva. Shiva lhes disse: "Eu sou o Senhor dos Animais (Pashupati). Os corajosos titãs só poderão ser vencidos se todos os deuses e outros seres assumirem sua natureza de animal." Os deuses hesitaram pois achavam que isso seria uma humilhação. E Shiva falou novamente: "Não é uma perda reconhecer seu animal ( a espécie que corresponde no mundo animal ao princípio que cada deus encarna no plano universal). Apenas aqueles que praticam os ritos dos irmãos dos animais (Pashupatas) podem ultrapassar sua animalidade." Assim, todos os deuses e titãs reconheceram que eram o rebanho do Senhor e que ele é conhecido pelo nome de Pashupati, O Senhor dos animais. Esse textos nos mostra a ligação do Yoga primitivo com o Xamanismo.



Ardhanaríshvara


O lado direito da estátua é claramente masculino, apresentando os atributos de Shiva: a serpente, o tridente, etc. Do lado esquerdo, vemos uma figura feminina, com os trajes típicos, o brinco feminino, etc. Esse aspecto de Shiva representa a união cósmica entre o princípio masculino (Shiva) e o feminino (Parvati), entre a consciência (Shiva) e a mat

éria (Parvati).
As cobras que Shiva usa como colares e braceletes simbolizam o seu triunfo sobre a morte, a sua imortalidade.
O filete de água que se vê jorrar de seus cabelos é o rio Ganges. Conta a lenda que o Ganges era um rio muito revolto que corria na morada dos deuses. Os homens pediram para que o rio corresse também na terra. Porém, o impacto da queda de água seria muito violento. Para resolver o problema, Shiva permitiu que o rio escorresse suavemente para a terra pelos seus longos cabelos.




Sendo o asceta eremita da Trimurti, Shiva é considerado o criador do Yôga, que teria ensinado pela primeira vez a sua esposa Parvati.